Mato Grosso
Cresce procura por seguro de vida durante a pandemia de Covid-19 e aumento em MT é maior que a média do país
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A insegurança durante a pandemia do novo coronavírus que já matou mais de 122 mil pessoas no Brasil fez com que a busca por proteção e garantia financeira para a família em caso de ausência aumentasse. Durante esse período, mais pessoas contrataram seguro de vida. Até esta quarta-feira (2), 2.868 vítimas morreram com a doença no estado.
Mato Grosso registrou o maior crescimento de contratações de seguro de vida do país, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Os seguros de vida contratados no estado entre janeiro e junho deste ano, no estado, somam R$ 192.245 milhões e os realizados no mesmo período do ano passado totalizavam R$ 181.735 milhões, o que representa um crescimento de 2,59%.
Mato Grosso registrou o maior crescimento de contratações de seguro de vida em comparação com a média do país, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). São 94 corretoras de seguros em atuação no estado, conforme o Sindicato dos Corretores de Seguros de Empresas Corretoras de Seguros e de Capitalização (Sincor-MT).
Corretora de seguros Lenice Prado diz que venda de seguros aumentou em 50% durante o período — Foto: Arquivo Pessoal
A corretora de seguros Lenice Prado, que atua no ramo há 24 anos, disse que vendeu 50% de seguros a mais durante esse período, aproximadamente. O aumento começou em março e se estende até agora.
“Houve um aumento expressivo durante a pandemia. As pessoas estão assustadas e isso fez com que repensássemos muitas coisas, inclusive planejar o futuro das pessoas que amamos”, afirmou.
Ela tem autorização para firmar quaisquer tipos de seguro, patrimonial, como de veículos automotivos, saúde e outros. Mas os outros, segundo Lenice, não apresentaram aumento significativo como os seguros de vida, saúde e de incapacidade temporária.
Nos contratos de seguro de vida, não costuma constar a cobertura de mortes decorrentes de pandemia, epidemia e desastres naturais. Mas, depois da Covid-19, isso foi repensado. “As seguradoras se organizaram para esse tipo de cobertura que era um risco excluído das apólices, alteraram as cláusulas e decidiram dar cobertura a óbitos por Covid-19 e afastamento (do trabalho) por causa da Covid-19”, explicou.
O seguro de vida cobre morte por causa natural, acidental, invalidez permanente por acidente, invalidez permanente por doença e assistência funeral.
A Covid-19 matou alguns clientes de Lenice. “Na minha carteira, houve aumento de óbitos por causa da doença. Até marco tinha um segurado falecido por outras causas e, nos últimos três meses, quatro segurados morreram por Covid-19”, contou.
O valor do seguro de vida varia de acordo com a idade e o capital segurado que o beneficiado pode receber. Quando o cliente tem alguma doença, é feita uma análise do estado de saúde dele e existe a possibilidade de a seguradora aceitar ou não firmar o contrato.
As seguradoras foram rápidas e editaram normativas para todos os corretores de seguros para beneficiar o segurado num momento de pandemia – momento tão doloroso que pegou todo mundo de surpresa.
Além do aumento nos seguros de vida, também cresceram as vendas de seguros de incapacidade temporária, que garante a renda caso o profissional precise se afastar do trabalho por motivo de doença.
A despesa com seguro de vida e outros tipos de seguro ainda não faz parte da cultura dos brasileiros, na análise da corretora.
O advogado e empresário, Adão Noel Mazetto, de 60 anos, faz parte do grupo que faz questão de pagar seguro de vida. Há mais de 10 anos, ele fez um contrato, segundo ele, para que a família não tenha problemas financeiros se ele vir a falecer.
“Fiz (o seguro) para garantir que as pessoas próximas a mim não arquem com problemas financeiros em caso da minha morte. Não que elas vão ficar ricas, mas para que possam ter um respaldo por algum tempo”, afirmou.
Queda no seguro de veículos
Já a contratação de seguro para automóvel, que devido ao alto número de roubos e furtos no estado, é considerado algo quase necessário pelos mato-grossenses. Na pandemia, o número de seguro de veículo caiu, possivelmente devido à crise econômica durante o período.
De janeiro a junho de 2019 foram contratados R$ 270.577.323 em seguro de veículos, no estado, e no mesmo período deste ano caiu para R$ 252.237.815.
A jornalista Angélica Neri, que teve o carro roubado em 2014, está entre as pessoas que fizeram seguro neste ano. “Desde o ocorrido, já troquei de carro três vezes e só retiro da loja depois da vistoria (da seguradora). A gente nunca sabe o que vai acontecer”, afirmou.
Ela conseguiu recuperar os danos caudados pelo roubo porque tinha seguro.
Caminhonetes são mais roubadas em MT — Foto: Djeferson Kronbauer/ Power Mix
Roubos e furtos de veículos
Em média, 293 carros e motos foram roubados ou furtados no estado, no primeiro semestre.
Segundo dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), foram furtados 997 veículos e 766 roubados.
A maioria dos seguros cobre incêndio, e roubo ou furto qualificado.
Em Mato Grosso, os modelos mais roubados são: Hilux, Strada, Corolla, S-10, Etios, L-200, Voyage, Gol, Uno e Saveiro.
Policiais guardam a fronteira durante todo o tempo — Foto: Gefron-MT
Rota de veículos roubados
Pela localização geográfica, na fronteira com a Bolívia, Mato Grosso é rota de passagem de veículos roubados para entrar no país vizinho.
O coordenador do Grupo Especial de Fronteira (Gefron), tenente-coronel Fábio Ricas, explica que os veículos levados para a Bolívia, normalmente, são por encomenda. As caminhonetes são as preferidas dos criminosos.
Determinadas marcas de caminhonete têm maior facilidade de manutenção e reposição de peças, segundo o tenente-coronel.
Ocorre que depois que cruzam a área de fronteira, os policiais brasileiros não têm mais autonomia para atuação e os veículos roubados no Brasil circulam livremente no país vizinho.
“Na Bolívia não se tem notícia de desmanche. Os veículos são levados para ser utilizados em trânsito normal, devido à legislação boliviana permitir a regularização de qualquer veículo estrangeiro, inclusive os de origem de furto, roubo e estelionato”, comentou.
Na avaliação do coordenador do Gefron, o que facilita o trânsito de veículo de origem criminosa para o país vizinho, são as inúmeras vias conhecidas como ‘cabriteiras’: estradas que ficam em propriedades rurais que dão acesso à Bolívia.
Como estão em propriedades privadas, a fiscalização nessas estradas se torna mais difícil.
É comum abordagens de criminosos com carros roubados na fronteira — Foto: Gefron-MT/Divulgação
Veículos recuperados na fronteira
Apesar do número de roubos e furtos ainda serem alto, o Gefron percebeu um aumento de 40% no número de veículos recuperados quando se deslocavam para a Bolívia.
Nesse cenário, o que chama a atenção dos policiais é o aumento de veículos de locadoras recuperados. O cliente aluga o carro e depois repassa para outra pessoa atravessar para a Bolívia.
“Essa travessia se torna mais fácil para os criminosos, tendo em vista a ausência de queixa de roubo ou furto do veículo locado”, explicou.
Ainda conforme o Gefron, em geral, as locadoras se negam a registrar queixa pela falta do veículo e preferem que, como o carro tem seguro, seja levado para a Bolívia para que a empresa possa receber a apólice.
“Muitas vezes o valor do seguro é maior que o valor do veículo. Os policiais têm dificuldade pois não encontram boletim de ocorrência sobre furtos ou roubos. Como o carro já está muito rodado, as locadoras preferem receber o valor do seguro do que ter o veículo devolvido”, disse.
O número de veículos recuperados na região da faixa de fronteira de Mato Grosso com a Bolívia aumentou de 2019 para 2020. Entre janeiro a agosto de 2019, foram 132 automóveis recuperados. No mesmo período desse ano foram quase 200 recuperados.